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20/05/2016Faltam poucos dias para o Ironman Florianópolis 2016, prova que contará com mais de 25 atletas da Webtreino. E para aquecer os motores, faremos uma série de entrevistas com alguns dos nossos atletas.
E para continuar nossa série, hoje vamos conhecer um pouco mais de um atleta que vem se tornando exemplo de esforço e dedicação para todos da equipe: Gustavo Ribas.
Idade/estado civil/número de filhos: 32 anos, casado, pai de um filho de 02 anos e meio
Profissão: Cirurgião dentista
Por que o triathlon e há quanto tempo você pratica o esporte?
Defino o triathlon como parte da minha sobrevivência. Foi através dele, e de tudo o que o envolve sua prática (alimentação, dedicação, treinos e fisioterapia), que consegui sair de uma quase aposentadoria por invalidez precoce.
Sempre fui uma criança muito ativa e com pouco medo de errar. Cresci jogando bola, andando de skate, lutando judô, surfando e andando muito de bicicleta com meus primos pela cidade. Naquela época, eramos pré-adolescentes e já cruzávamos a Curitiba de ponta a ponta pelas canaletas de ônibus. Passávamos horas rodando, com bicicletas sem marcha, sem câmara reserva, sem capacetes, tampouco caramanholas cheias de maltodextrina. Eramos apenas pirralhos em busca de aventuras e da liberdade que o vento batendo no rosto proporciona. Nosso combustível era composto por uma dieta rica em coração de galinha, balas 7belo e coca-cola. Enquanto nossos pais comiam o churrasco de adulto, as crianças apenas selecionavam o que mais agradava para o pré-treino. Comíamos a quantidade que coubesse no estômago e partíamos sem muito traçar o destino.
Em casa, meus pais sempre insistiram nas aulas de natação. Conseguiram este feito até completar 15 anos. Confesso não gostava de ir nadar. Eu completava toda a aula de técnica, mas gostava mesmo eram dos 10 minutos finais que os alunos tinham livres nas raias . Eu usava este tempo para poder brincar de apneia, atravessando a piscina sem respirar. A imaginação fluia e eu virava um submarino explorador do fundo abissal oceânico.
Desafio era meu sobrenome e quanto mais arriscado e difícil, estava o pequeno Gustavo tentando se superar. Pelas peraltices que fiz até minha adolescência, cultivei muitas idas à clínica de fraturas e cicatrizes pelo corpo.
Fiz minha graduação em Odontologia ao final do ano de 2005 e comecei a atuar nessa profissão que é linda, porém desgastante para o corpo. Com o aumento da carga horária de trabalho, a atividade física não era mais uma prioridade em minha vida. Os anos começaram a passar na mesma velocidade em que as dores nas costas chegavam.
Em 2011 casei para todo o sempre. Almoços e jantares sociais começaram a fazer parte da rotina semanal do casal eno-gastronômico. Nesta época comecei a pagar o preço da fartura culinária com dores no corpo. Ganhei muitos quilogramas na balança, degeneração de duas vértebras da coluna, hérnia discal com pinçamento no nervo ciático. Definitivamente eu estava idoso com apenas 28 anos de idade. Tarefas simples como andar, sentar e esticar a perna esquerda eram praticamente inviáveis. O nervo ciático inflamado me minava junto com os 95kg da balança. Procurei orientações médicas e coloquei a fisioterapia semanal na minha rotina. Eu estava praticamente inerte. Minhas corridinhas de 3km causavam dores nas canelas e faziam perder o fôlego facilmente. Era um martírio.
Foi então, que o meu grande amigo e compadre (Rodrigo Saboia – IronMan em 2006) me incentivou a começar a praticar as três modalidades do triathlon. Juntei a determinação e exemplo do meu sogro multicampeão de travessias marítimas, a paixão que sempre tive em pedalar e a febre das corridas de rua das quais eu já estava participando na época. Comprei uma bicicleta speed e comecei a treinar por conta própria para fazer provas de aqualthlon e duathlon. A cada passo que eu dava, minha saúde e condicionamento melhorava. Estava dado o ponta pé inicial para o amor nascer pelo “nadapedalacorre”.
Fiz minha primeira prova de triathlon em 2013. Um short que me rendeu 01h32m de extrema satisfação. Aquilo foi o máximo! Eu me senti um super herói ao terminar a prova. Aquilo que era impossível, agora tinha infectado a minha alma sedentária. Dalí em diante minha vida foi chacoalhada. Procurei a ajuda técnica com assessoria esportiva no clube do qual sou sócio. Foi nessa época que conheci a WebTreino e toda a equipe profissional. A cada prova que eu me inscrevia, uma evolução era atingida. Fiz muitas provas de short triathlon para depois encarar a distância olímpica. Colecionei muitas medalhas de participação e até um troféu de terceiro lugar na categoria 30/34 na distância olímpica. Isso me deu motivação para desafios maiores como as provas de longa distância. Meus melhores tempos em provas de triathlon até hoje são: Short-01h08m, Olímpico-02:18m, 70.3-05:31.
Por que fazer um IronMan? O que o motiva?
Primeiro motivo é pelo fato de nunca ter feito nenhum. O IronMan é o maior desafio físico/psicológico que já me propus a fazer. Como já me descrevi anteriormente, sou definido desde pequeno pela borderline do limite. Fazer por prazer é o objetivo para esta prova. A insegurança da enorme distância parece ser temerosa, mas quanto mais longo o passeio, mais lembranças podemos gravar na memória.
Como tem sido sua rotina de treinos?
Sempre digo que se fosse fácil não se chamaria Triathlon, mas sim Hidroginástica. Acho que os dias de treinos são sempre mais ardidos que os dias de prova. Estabeleci uma meta e é essa meta que eu preciso alcançar até o dia da prova em Jurerê. A meta é chegar aos 75kg, com joelhos fortes e capacidade cardiovascular em ordem. Tenho feito acompanhamento nutricional e isso me ajudou muito no processo evolutivo. Meu mantra é “quanto menor o peso que carregarei, menos dores sentirei”. As dores ainda me acompanham, principalmente nos joelhos, mas tenho conseguido contornar esse problema físico com muita psicologia e auto-conhecimento. Muitos treinos são feitos com fadiga do treino anterior. Já fiz treino chorando e já fiz treino de deixar papai orgulhoso. Já teve de tudo nesta jornada triatlética. Até treino de corrida de 30km na esteira eu já fiz (algumas vezes).
O mais legal do ciclo do Iron é que fortalecemos muito a amizade que calcamos durante o processo. Tenho muito a agradecer a eles. Foram centenas de horas de treinos juntos, falando besteira, reclamando, dando gargalhadas e aproveitando a vida. É aquele famoso “tá ruim, mas tá bem bom”. Os IronGalos foram peças essenciais até aqui.
Normalmente o calendário de treino segue uma linha específica: Nas segundas eu nado e corro o regenerativo, terça feira faço treino de força no ciclismo seguido de fisioterapia. Quartas são dedicadas aos longos de corrida e natação para soltar a musculatura. Quintas faço spinning e musculação específica. Nas sextas eu corro e nado. Sábado é o dia internacional da transição com bike e corrida. Domingos ficam com os treinos longos de ciclismo.
Que ajustes foi preciso fazer para que os treinos encaixassem com a sua vida profissional e familiar?
Patrícia, minha amada esposa, não gosta muito quando o despertador começa a tocar às 04:50 da madrugada, mas sempre me espera em casa com um abraço e um beijo carinhoso no pós treino. Além de compreensiva, ela cuida impecavelmente do nosso maior tesouro: o Luigi. Nosso filho já está tão acostumado com a minha rotina de treinos que até me pergunta se eu ainda não fui correr. O figurinha nem fez três anos e já quer praticar o esporte do pai. Quer melhor incentivo que este? Ter uma família que apóia suas loucuras é muito gratificante. Amor é isso.
No trabalho eu tive que remanejar a agenda dos pacientes para dar conta de toda a planilha de treinos. Tudo se encaixou logo nas primeiras semanas do planejamento e hoje já estou habituado. Normalmente faço o primeiro treino antes do sol nascer e o segundo treino ao terminar o expediente de trabalho. A estrutura que o Clube proporciona é fantástica e me dá a flexibilidade de horários para realizar o treinamento.
Qual a importância da assessoria e do técnico na sua caminhada até o Ironman?
Sigo a planilha de treinos que o técnico Fabio Bronze me passa desde que entrei para a equipe. Os treinos específicos para a prova de Florianópolis iniciaram em Janeiro e, de lá pra cá, faltei apenas um dia de treino por impossibilidade física. Tento seguir tudo o que é passado, pois tenho consciência de que só com o acompanhamento profissional conseguirei terminar a prova sem muitas sequelas. Os profissionais que me cercaram até aqui são excelentes. A Webtreino tem suporte de estrutura de treinos coletivos, palestras e metodologia que leva o aluno ao seu melhor nível, de forma gradual e com responsabilidade. Sem a assessoria, não chegaria até aqui no esporte.
Acha que está bem preparado para a prova? Já se imaginou cruzando a linha de chegada?
Saber que posso tentar superar a distância usando a mente paciente e o corpo treinado me instiga a querer escutar o jargão do pórtico de chegada que diz “You are an IronMan”. Será lindo saber que driblar as adversidades da vida através de determinação e dedicação é possível até para quem nunca imaginou. O esporte ensina a viver melhor no mundo em que habitamos. As dificuldades dos treinos são análogas as do nosso cotidiano caótico.
Querer é poder, nem que demore 17 horas seguidas para conquistar esse sonho. Isso é o que me move!